26 de out. de 2011

a história da minha vó

 Pra quando a vida tem que continuar....


Ela é uma menina com uma flor - diria Vinicius. Mas eu digo mais.... digo, então, que ela é uma menina com uma flor e seus encantos. 


Tipo  uma bruxinha boa, que faz magia pro bem.     


E ela é assim: mesmo   frag men ta da     
depois da luta, ela aparece
TODAINTEIRA.


Porque leva no bolso aquele monte de girassóis que eu lhe enviei por meio do vento.


                                    
E nos lábios carrega, ainda, aquela prece poderosíssima:
"Andarei vestida e armada com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me exerguem e nem em pensamento eles possam me fazer mal."


E, assim, ninguém a alcança. 


Vai ver porque ela não é mesmo daqui. Veio de qualquer outro mundo distante, onde 
O CORAÇÃO PESA MAIS NA BALANÇA! 
(mesmo sendo ariana) :/


Veio de  um lugar onde se trocam carinhos na alma....
onde sempre há esperança!!

Acredita que as borboletas sempre voltam e pousam seguras em jardins encantados...


Sê forte e corajosa!  sua vó lhe dizia. - Sorria com os olhos mais do que com a boca, porque a alegria  só é verdadeira se vem de dentro. Aquela alegria boba que invade e fim.....(sempre uso reticências....) e acredita que o 
BEM SEMPRE VENCE NO FINAL 
mesmo que as forças "sujismundas" digam o contrário todo-santo-dia.... :(((   :)))
Vai lá...se banha no reino das águas claras e sai purificada, porque  tu és criança de alma.

Me benzo. Te benzes...
Abençoa - me



E assim, seguimos fortes  todas duas: 
A mulher de alma aleijada - do vago olhar de mar
 e a menina curadora de todas as feridas.






hora de acordar

Despertar como  uma criança que rola sobre a cama para não precisar levantar.  Sonhando sempre com belos poemas.... Sonhando sempre....Anda a raptar casulos, niná-los com cuidados e contemplá-los , metamorfoseando medos em delicadas borboletas, repletas de cores e reflexo vivo de aquarelas imaginadas.
Pensa ser como mariposa e tem as vestes de um dragão.
Vive como deusa que desconhece seu reinado, que dirá então de sua divindade, abandonada em poder de sua coragem, tão humana.
Corre como presa a lutar por sua liberdade.
Age como fera, tomando pra si o que deseja.
E de manhã faz um novo pacto, um contrato eterno com sua menina:  de aquecê-la com dedicação e acolhê-la com um sorriso sincero e coração puro, para o novo dia que visita a pequena senhora...
Que  desperta como anjo, captura sua borboleta, beija suas asas, guarda-a na maleta e sai em busca de voar.




Que eu possa a cada manhã acordar com a coragem. Que ela sorria pra mim e sorria pra cada um também, que ela nos convide para viver uma história toda nova a cada dia. Que tenhamos saúde no corpo, saúde na alma e saúde no espiríto. Saúde à beça.... Que seja a coragem a manivela dos ventos, o guia dos mapas, a atitude do agir pela fé na vida. Que venha em forma de sol, de chuva, de flor...de amizade , de amor...de um olhar e da suma generosidade, Que seja sempre verdadeira , livre e espontânea. Que brote na alma e permaneça no coração. Sem conceitos , sem preconceitos. 
Coragem que muda os caminhos.. e a verdade que guia  os sinceros de coração.




21 de out. de 2011

engano




Dentre todas as dores de amar, ou do amor
Não considero a dor do amor não correspondido
A mais triste de se aturar
Mas a dor de se amar enganado
De se dar e ter por merecedor alguém que jamais valeria tanto sofrer
Tantas lágrimas,tanto amor...
O amor enganado é aquele que não volta,que não se conquista mais o que foi almejado
E nem irá se colher o fruto do que tanto labutou
Apenas foi mal empregado,como uma propriedade mal adquirida
Porém sem o direito de te-la
O amor enganado e a certeza de que se perdeu tempo,se perdeu valores
Se perdeu amores por alguém que não era digno
Que não valia o valor então estimado
O amor enganado é juras sem consequencias
Ou melhor com apenas uma consequencia
O abismo do vazio
É sentimento sem essencia
E amor sem verdade,blasfemia...
O amor enganado é pior que a dor do amor rejeitado
Porque o amor de quem nos rejeitou nunca o tivemos
Apenas gostamos sozinhos,apenas sonhamos...
O amor enganado é aquele que por muito tempo pensamos possuir
Porém jamais se tornaria aquilo que pensavamos
A dor do amor enganado não tem explicação
A entrega que de nada valeu
Os sonhos que era só seu e achava que de fato
Se sonhava a dois...
O que no passado era o mel dos teus lábios
E hj caindo em teu estomago
Se torna o fel de sua alma
Juntamente com a dor do futuro frustrado
Que dói não por saber que não irá chegar
Mas dói por saber que jamais iria existir
O amor enganado é o mais egoísta
Pois além de não nos desejar
Também não nos liberta para amar...


Recebi isso agora pouco. 
E me machuca pensar nesse tipo de engano.
Sempre usei palavras para exprimir sentimentos
Mas nunca usei de falsos sentimentos para descrever palavras.

Engano??
Mentira??
Não sei se o tempo dirá....
ou haverá tempo pra mostrar....
Vale da consciência de cada um.
Cada um traz consigo  o seu vale.



Disfarce

Quando mexo na ferida
descasco a dor sentida
choro
um choro de dor partida
choro na cozinha
disfarço cortando cebolas
me alimento
das ilusões
pra ser forte.







...parece cocaína...mas é só tristeza.....


o canto dos lobos





"Os lobos são bons nos relacionamentos.  Qualquer um que os tenha observado, sabe como são profundos seus vínculos.  É frequente que os parceiros sejam para toda a vida.  Muito embora entrem em conflito, muito embora exista a  discórdia, os vínculos  entre  eles permitem  que ultrapassem invernos rigorosos,  primaveras abundantes, longas caminhadas, novas ninhadas, antigos predadores, danças tribais e cantos em coro.  



Diferentemente dos seres humanos, os lobos não consideram que os altos e baixos da vida, quer de energia, de poder, de alimento, quer de oportunidade, sejam espantosos ou punitivos.  Os picos e os vales simplesmente existem, e os lobos passeiam por eles com a máxima eficácia e facilidade possível. 
Entre os lobos, os ciclos da natureza e do destino são encarados com elegância, inteligência e persistência para ficar junto do outro e viver por muito tempo e o melhor possível."


Mulheres que correm com os lobos

Clarissa Pinkola Estés




Não tenho mais tanta pressa....Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim.
 Sou a viajante e a viagem...



20 de out. de 2011

la noche

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: " La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

NERUDA



18 de out. de 2011

close to you





tem a ver com minha infância...com meus filmes, meus sonhos...minha casa.....com cheiro, lembranças.....com joelho"roxo"...olhar inquieto de canto de olho....com careta malcriada,  sorriso largo....com garota levada!!



Close to You é minha trilha  de infância,
assim como Butch Cassidy and Sundance Kid é "meu" filme.




 

17 de out. de 2011

começo, meio e fim

A vida tem sons que pra gente ouvir 
precisa aprender a começar de novo...
É como tocar o mesmo violão e nele compor uma nova canção...







14 de out. de 2011

poesia concreta



a tua poesia  é quente dentro da tua realidade fria
tua poesia é encantamento
diante da tua indiferença
tua poesia é cor
no teu dia nublado
chuva fina
tempestade forte
correnteza de emoção
perdição na noite
correria do dia
pulso do coração
pra onde você vai?




13 de out. de 2011

esvaziando



"Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. As árvores e as flores entram. Mas – coitadinhas delas – entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia."


Rubem Alves


  




Quem tem medo de sofrer não deve procurar o amor. Não que este seja sinônimo de sofrimento...mas para que ele venha acontecer e florescer, é preciso passar pelo deserto da dor. Ai sim, vira amor! 

tentando entender.....
esse sonho.


12 de out. de 2011

12 de outubro


"Trouxeram-lhe também criancinhas, para que ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as repreendiam. Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas. Em verdade vos declaro: quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha, nele não entrará." 
(Lucas 18,15-17)

"Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança.Está sempre à procura de companheiros para brincar.."

Rubem Alves






11 de out. de 2011

quando a morte esteve de passagem







– Não me olhe nos olhos, senão coloco fim nessa sua cisma de roubar histórias! Entendeu? – Indagou a Morte.
– Por que é tão perdida? Atrasada ou adiantada, sem graça ou horrível demais. Não tem controle de si? – Perguntou o moço, torto de curiosidade.
– Eu ainda sou nova.
– Claro, está sempre se renovando!
– A partida é bonita, meu caro, não percebe? É como…
– Desabrocha, flor, na rocha! – Ele a interrompeu.
– O quê?
– Nada.
– Sabe, virei buscá-lo um dia. Quando o céu estiver vermelho ou chuvoso, porque o terremoto vira do avesso e vai ao céu quando se cortam as asas de um anjo. E preste atenção nas estrelas, estarão bem apagadas quando isso acontecer. As pessoas vão dizer que você adorava beber, mas carregava a alegria do sol. E outros sentirão sua falta. – A morte explicou com voz rouca e cansada.
– Gosto da sensação de ausência.
– Eu sei, por isso faço cair folha por folha, quando se trata de você.
– E quem será? Agora, quero dizer.
– Quem é que sabe? Talvez eu leve uma foto sua. Já me servirá de recordação enquanto devasto seu passado.
– Cuidado.
– Oras, eu? Com o quê? Você é quem deve temer.
– Com meu cabelo.
Um suspiro. E ela virou as costas.
– Não te consertam. – Disse a morte.
– Quem?
– Os pássaros, as paixões, as pessoas… Você sabe, tudo tem conserto, inclusive eu. Pode, sim, fechar o que eu causo. Por que insiste em deixar aberto?
– Você é casada com o amor. Gosto dos dois em mim.
– Você se…
– Aflora! – Ele a interrompeu novamente.
– Pare de me interromper.
– Você sempre faz isso comigo. Interrompe meus laços desprotegidos, meus risos.
– Deveria ter nascido borboleta. Viveria dois dias e nunca me daria trabalho.
– Antes fosse, quando o gosto do céu era doce.
– O quê?
– Nada. Quanto tempo ainda tenho?
– Alguns relógios.
– E você?
– Poucas praias, preciso partir. Quero te salvar desse gosto. E sem apertos de mão, não me arrisco.
– Sem delongas. Parta! Antes que amanheça e as pétalas fiquem. Desperdício seria vê-las ao chão em um dia tão bonito como o de amanhã. Na verdade, todos os “amanhãs” são belos. Pelo fato de ainda não existirem. Pois vá, e diga ao amor que não guardo rancor, ou você nem teria falado comigo, apenas buscaria a sobra de um rosto bonito. – Ele ergueu os olhos.
– Não dê adeus. Sabe que essas partidas são temporárias, e posso voltar a qualquer hora.
– E que te fechem as portas!
– O quê?
– Nada. Volte logo! – Sorriu



 por Adriano .C

9 de out. de 2011

cantares




Como selo põe- me no teu coração
Pois o amor é forte, bem mais do que a morte
Seu ardente sopro eu desejo sentir.
Sou a cera quente que a chama derrete,
Teu Nome grava em mim.

Como selo põe-me também no teu braço
Ó amor que a fria tumba arrebenta
Tuas brasas vivas em vez de ferir
vão sempre salvar e purificar também.
Ó Amor zeloso, és também chama ardente
Que consome aquele que teu Nome nega.

Este amor nem águas apagar farão
Nem seu desejo enfraquecer fará
Nem chuvas fortes ou rios que descem
Apagar tal fogo poderão fazer.
Em tão forte chama amolece meu ser
P'ra no coração o teu Nome gravar.

(Cantares 8:6-7)



7 de out. de 2011

da janela, na chuva uma trilha...





Quando já não tinha espaço, pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer,
Acomodei minha dança, os meu traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha e assim ser tua
Quando já não procurava mais
Pude enfim nos olhos teus, vestidos d'água,
Me atirar tranquila daqui
Lavar os degraus, os sonhos, as calçadas
E, assim, no teu corpo eu fui chuva
... jeito bom de se encontrar!
E, assim, no teu gosto eu fui chuva
... jeito bom de se deixar viver!
Nada do que fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto
E só sossega quando encontra tua boca
E, mesmo que eu te me perca,
Nunca mais serei aquela que se fez seca
Vendo a vida passar pela janela...




6 de out. de 2011

ausência


Todo dia
quando o sol se põe 
e começam a nascer as estrelas
a noite propõe aos dois que brilhem
que os façam amolecer
dizer bobagens e enternecer
pra tentar esquecer
que o que os separavam não eram mares,
continentes, nem oceanos
mas ledo enganos 
de planetas e ventos
e tudo tornara-se
muito longe
ele cá
ela lá 
e não dava
e doía 


A noite propunha sacanagem 
mas a maior de todas
eram estar sós e separados
sem poderem se tocar daquele jeito
sem poderem se amar no seu direito
eram seus momentos de calmaria , de alegria
de prazer e fantasia


enquanto um amanhece o outro dorme
e ficaram assim  esmorecendo tentando 
se encontrar num mundo tão diferente
mas ainda restava um olhar, um sentimento 
e uma vontade de ficar
e doía 


estavam perdidos
não sabiam
ai pensavam em largar tudo em nome um do outro
e desistiam
e doía de novo
agora, a hora, que sabe ? pra sempre


e não sabiam
que não conseguiam
ir embora.





5 de out. de 2011

tão perto , tão longe

Meu programa predileto


Do sofá, assistindo um programa idiota na tv, eu noto a porta entreaberta do banheiro. Lá está ela, no boxe, tomando seu banho com sabor de laranja. Sempre adorei aquele perfume cítrico louco, que me deixava alucinado nas montanhas quando o senti pela primeira vez. Estávamos numa cabana, o céu escuro do dia não convidava a nada, o frio suado da tarde, e um vento com cheiro de grama queimada, misturado com leite ou queijo, zunia na porta e balançava um pouco as madeiras rachadas. Na cama, ela dormia cansada de uma viagem de horas, de conversas demoradas durante toda a manhã com doentes mentais que dirigiam empresas, e eu ali, lendo um pouco de Neruda, livro dela, não meu, mas eu lia tudo dela, ouvia suas músicas e tudo mais. Ela acorda mas nunca abre os olhos, apenas me puxa para perto daquele corpo macio, e pede para beijá-la ronronando e fazendo manha. Eu a beijo, mas o beijo me remete a outro, e a toco, a desejo loucamente, e a beijo o corpo todo. E ali, naquela cama estridente, com madeiras rangendo por todos os lados, e a lareira apagada, mas cheirando carvão, transamos até o manto negro da noite cobrir toda montanha.
Ela vai ao chuveiro, nessa hora que senti pela primeira vez o doce perfume da laranja silvestre, oriundo de um frasco com a cor da fruta, ela se banha e se perfuma com ele. Me enlouqueci. Transamos no chuveiro com laranja em minhas narinas, e o cheiro de sangue ferroso em nossos poros explosivos. Depois comemos pelas ruas vazias da cidade quase fantasma, andamos sem destino e sem nada, apenas embalados pelo vinho e pela vontade de andar lado a lado, pouco falamos, apenas andamos, ora de mãos dadas, ora abraçados, ora quase pelados no frio intenso, pelados em nossas paixões bêbadas. E agora, um ano depois, não consigo prestar atenção nesta tv, nunca presto, nunca presta mesmo nada que vem desta porcaria eletrônica. Mas ao meu lado, quase tão perto que daria para tocá-la, ela dança sem notar no seu banho de iara, a água parece cantar para ela ao escorrer e massagear seu corpo de fruta, e eu me inclino mais ainda para sentir toda aquela magia louca, para absorver aquele momento sagrado e puro, o banho cítrico da criatura mais linda da terra. Ela se acaricia com o perfume celestial de laranja. A tv me chama, o apresentador implora minha atenção, coloca mulheres nuas, passa um filme com orgias, mostra um louco comendo carne humana, mas não consigo mais pensar em outra coisa senão naquela linda cena do boxe do banheiro. Sonhei com aquilo depois, e por muitas outras vezes. No fim, ela me chamou, me pediu a toalha. Ela sempre me pedia a toalha branca, que sempre estava no varal. E eu sempre procurava no lugar errado, só para ele ficar um tempo a mais naquele lindo altar do banheiro, meu melhor programa noturno. 


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Vem uma pessoa, vem de longe, a gente a vê, mira seus olhos, se encanta. De alguma forma alguém a trouxe, ali está ela bem na sua frente. O tempo passa, você a observa. Que pena que és bela. Poderia ser simplesmente comum. É tão perfeita pra ti, seus olhos, seu caminhar, seus sonhos. Mas tem um defeito, é bela. Fosse ela mais simplesmente normal. Poderia ser um pouco mais gordinha, talvez coxa de perna. Mas, de propósito, és bela, brilha com seus cabelos e olhares, com seu jeito insinuante. Mas não é seu corpo que ele vê. É seu jeito de mulher, sua voz aveludada, suas ambições naturais, e sua natureza tão pura. Seu jeito meio selvagem, sua coragem e espírito guerreiro, e o coração do bem, com um sabor de amor e cravo. Eis que ela assim te olha, vocês caminham juntos por tantas calçadas e parques. Brincam, conversam e viajam. Nasceu um conto, um poema, nascem algumas palavras jogadas na tela. Você vai com ela ver as estrelas, a tira da chuva, cobre suas costas frias, massageia sua canseira e ombro ferido. Você a carrega no colo nos dias ruins, defende sua moral com unhas e dentes, e a protege do todo mal presente. Sim, pensa consigo, é ela, é ela que eu tanto esperava. Oh, Deus, mas tinha que ser ela assim tão bela? Por ser bela, sempre a ela, outros olhos miram e desejam, tantas palavras vêm do nada, elogios e tantas paqueras. Não podia ser ela simplesmente comum? E se ela chora, você recolhe aquelas lágrimas, as guarda com carinho. Canta pra ela na areia, diz que a ama um dia. E ela, de tão bela e amada, desejada e querida, resolveu em outro dia também te dizer "te amo". Ah, a magia, tão esperada magia, explode em seu coração cedente e você perde um pouco o equilíbrio. Mas o mundo tem lá seus caprichos, e nem tudo é bonança, há as tempestades e os terremotos, há as guerras e os espinhos. Por mais amor que tenhas no peito, os infortúnios estão aí, atrás do muro. E na correnteza eu a segurei, no incêndio a protegi, quando ela caiu eu a levantei e quando não pôde andar eu a carreguei. Mas também tive meus maus dias, também espirrei e me gripei, também cai e escorreguei, e então ela se foi.




por Mauro Cass







3 de out. de 2011

doeu



Camicase

Não há mais jardins nos pés
nem dentro das cicatrizes

Conhecer todos na cidade
e a ninguém reconhecer
        
Finda a brincadeira
não ter mais direito a distrair-se
        (a distratar-te)

já não instiga mais
o punhal cortejado
cravejado de mentiras

Só!
Fica o homem sozinho
só com sua realidade
      (com sua crueldade)
e  CONSCIÊNCIA

Isto lhe basta?

Olga Savary




.....e naquele dia dei um grito em silêncio.


1 de out. de 2011

o bolo


Hoje fiz bolo de laranja. Estava uma tarde fria, com o céu alaranjado anunciando um por-do-sol, e na cozinha sujando minhas mãos, lembrei de você. Queria você do meu lado, naquele momento, fechei os olhos por um minuto, tentei lembrar do seu cheiro, e da temperatura perfeita de sua pele. Logo apos, abri os olhos e derramei o liquido cremoso alaranjado na forma de bolo, havia ficado um aroma bom na cozinha. Pensei logo “será que ele gostaria de estar aqui, para sentir esse cheiro? Para sentir o meu cheiro? Ele gostaria de estar aqui, para observar a queda da calda de chocolate? Para observar meu sorriso abobado? Será que ele gostaria de estar aqui, do meu lado, apenas para podermos ter uma conversa, uma risada, para relembrar nostalgias? Eu não sei, mas com certeza, eu queria. Não apenas queria a presença dele, o toque, o cheiro, o sorriso, as conversas… Mas queria ele.
Cansada de conversas de pouco intelecto e papinhos extremamentes clichês, a unica coisa que poderia nos ligar, era a força dos nossos pensamentos, dos nossos sentimentos… Então, pela manhã, enquanto aguentava futilidades e conversas tão ridiculas, apenas fechava os olhos, e tentava te imaginar do meu lado. Caso quisesse mais, olharia nossa foto mais uma vez, e soltaria outro suspiro de saudades. 
Relembrando suspiros, relembro os seus suspiros, sua respiração… Um suspiro timido, apenas uma pequena solta de ar, um suspiro baixinho, quietinho, aliviado na curva quente do meu pescoço, e então, pude ouvir, um alivio que tinhas, por finalmente me ter em teus braços, em tua boca, em finalmente me ter. Tua respiração quente confortava minha pele, e trazia a mim, uma paz interior, um sentimento de egoismo, queria você só para mim, em meus braços, para sempre, queria te prender nos meus braços, queria ter para sempre, a curva do teu pescoço quente e confortavel, para poder me sentir tão segura, amada, e protegida, como eu me senti com você. E então, queria teus labios para sempre, grudados no meu, queria ter todo momento frio, tuas mãos grudadas nas minhas, e tua voz, tua boca, você, em meu ouvido, dizendo baixinho “Eu te amo, muito, muito, muito mesmo.” Queria ter para sempre você, ali, comigo, naqueles bancos escuros, com tua respiração me esquentando, com teus beijos me confortando, com teus abraços me esquentando. Queria todos os momentos, sentir teu suspiro, tua voz, você, do meu lado, grudado, abraçado, beijado, conforvel, rindo, amado, desejado. Para sempre, queria poder rir da confusão entre nossos beijos, não me importando com a perfeição do seu beijos, dos seus movimentos, mas sim, me importando com a perfeição do momento, do seu cheiro, do desenho do teu pescoço, que a todo momento eu insistia em contornar, com a perfeição dos ossos da sua mão, com a perfeição do contorno dos teus labios, com a perfeição da temperatura da tua pele, na qual eu não conseguia tirar a mão e parar com caricias tão desejadas. Como sempre digo, você é imperfeito, mas totalmente, completamente e irredutivelmente, perfeito para mim. 
Naquela cozinha, esperando o fogo quente dourar o bolo alaranjado, sentada na varanda, parei por um segundo, e pensei “Por que eu o amo tanto?” 
Sei que não te amo por você gostar de história, não te amo por você ter um beijo atrapalhado, não te amo por você curtir música, não te amo por você falar rápido demais e me fazer ficar confusa.
“Então”, pensei comigo “por que eu o amo tanto?” E em seguida, lembrei de um trecho famoso, mas verdadeiro, que me deu a resposta: “O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Chico. Isso são só referênciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam,pela fragilidade que se revela quando menos se espera.”
E então, posso dizer: Eu te amo.
Quer um pedaço de bolo?