Pensando em cartas....
Fora os diários, possuo uma pasta de cartas.Todos os tipos de cartas...- tempos em que se usavam papéis, caneta, a velha Olivetti, envelopes, selos - pois é, guardo a maioria das cartas que recebi. As do internato, aquelas que recebíamos, no meu caso da minha mãe, essas não as tenho mais.....mas as cartas dos amigos, dos paqueras e dos namoricos...tenho todas!! Devo isso pelo fato de ter morado longe de minha cidade, algumas vezes....
Sempre que penso em cartas me bate uma certa nostalgia e fascinação por esse meio de transporte de notícias. Desde receber a carta, a campainha anunciando o carteiro.. a caixa de correspondência cheia...tudo isso dava um certo frio na barriga...era sempre um suspense, uma adrenalina a mais! Hoje em dia temos os emails, tão instantâneos, tão "enter", tão corrente e decorrente e cheio de correntes e liquidações baratas...Enfim, voltando as cartas, era emocionante receber uma carta, cartas são saudades escritas. Uma carta também poderia ser portadora de más notícias ( não confundir com aquelas de cobrança). Tive sorte, no meu caso sempre foram de amigos viajando contando suas aventuras em cartões postais....cartas desenhadas...cartas de saudades...até cartas com pedidos de namoro e declarações anônimas. A carta trazia o diferencial do sonho; você recebia a carta e a respondia...alguns dias pra chegar ao destinatário e mais alguns dias pra receber sua resposta...Um desafio para a ansiedade de qualquer cristão! Mas era a melhor espera....principalmente para os corações apaixonados!
Tive uma empregada em casa que viu seu namorado apenas uma vez na vida, mas nos dois anos em que ela trabalhou comigo, namorou e noivou por correspondência. Neste ponto , hoje em dia, graças as camêras e a net, dá pelo menos pra ver o fulano ou a fulana...e fazer juras de amor eterno via web!
Guardo minhas cartas, bilhetinhos bobos , bilhetinhos escritos em guardanapos..... em papel de caderno...poesias em papel de embrulho...e em tantos outros tipos de papéis. Também escrevi muitas ...
Certa vez no aeroporto de Chicago, indo pra Los Angeles, tinha umas boas horas pela frente até o vôo da conexão.. entre lojas, free shop, em uma banca de revistas dentro de um café bar, resolvi me acomodar por ali . Reparei numa moça, que passava com uma grande mochila, tinha várias tatuagens e estava tentando se comunicar. Dava pra perceber que era uma italiana e não há nada mais engraçado ou incompreensível do que um italiano falando inglês...que me perdoem os italianos mas já contei essa história pra várias pessoas que concordaram comigo! rss...pois então, a moça se comunicava muito mal em inglês e estava escolhendo um cartão postal para enviá-lo dali mesmo. Resolvido a questão do postal, ela sentou-se do meu lado naqueles balcões compridos do café e já tentando relaxar, começou a desenhar estrelas no cartão postal. Apenas estrelas... eram de vários tamanhos e formatos, que aos poucos foram preenchendo todo espaço do cartão. Tratava-se de um cartão de estrelas! Me encantei tentando imaginar a história por detrás daquelas estrelas. Enquanto desenhava ela sorria sozinha, e numa dessas me pegou olhando distraída pra suas estrelas, sorriu pra mim e eu correspondi seu sorriso, como numa espécie de cumplicidade daquele momento que intui em silêncio de: Felicidade e Saudades......
O meu momento era de felicidade , mas se tivesse que desenhar saudades.... certamente desenharia estrelas também.