11 de out. de 2011

quando a morte esteve de passagem







– Não me olhe nos olhos, senão coloco fim nessa sua cisma de roubar histórias! Entendeu? – Indagou a Morte.
– Por que é tão perdida? Atrasada ou adiantada, sem graça ou horrível demais. Não tem controle de si? – Perguntou o moço, torto de curiosidade.
– Eu ainda sou nova.
– Claro, está sempre se renovando!
– A partida é bonita, meu caro, não percebe? É como…
– Desabrocha, flor, na rocha! – Ele a interrompeu.
– O quê?
– Nada.
– Sabe, virei buscá-lo um dia. Quando o céu estiver vermelho ou chuvoso, porque o terremoto vira do avesso e vai ao céu quando se cortam as asas de um anjo. E preste atenção nas estrelas, estarão bem apagadas quando isso acontecer. As pessoas vão dizer que você adorava beber, mas carregava a alegria do sol. E outros sentirão sua falta. – A morte explicou com voz rouca e cansada.
– Gosto da sensação de ausência.
– Eu sei, por isso faço cair folha por folha, quando se trata de você.
– E quem será? Agora, quero dizer.
– Quem é que sabe? Talvez eu leve uma foto sua. Já me servirá de recordação enquanto devasto seu passado.
– Cuidado.
– Oras, eu? Com o quê? Você é quem deve temer.
– Com meu cabelo.
Um suspiro. E ela virou as costas.
– Não te consertam. – Disse a morte.
– Quem?
– Os pássaros, as paixões, as pessoas… Você sabe, tudo tem conserto, inclusive eu. Pode, sim, fechar o que eu causo. Por que insiste em deixar aberto?
– Você é casada com o amor. Gosto dos dois em mim.
– Você se…
– Aflora! – Ele a interrompeu novamente.
– Pare de me interromper.
– Você sempre faz isso comigo. Interrompe meus laços desprotegidos, meus risos.
– Deveria ter nascido borboleta. Viveria dois dias e nunca me daria trabalho.
– Antes fosse, quando o gosto do céu era doce.
– O quê?
– Nada. Quanto tempo ainda tenho?
– Alguns relógios.
– E você?
– Poucas praias, preciso partir. Quero te salvar desse gosto. E sem apertos de mão, não me arrisco.
– Sem delongas. Parta! Antes que amanheça e as pétalas fiquem. Desperdício seria vê-las ao chão em um dia tão bonito como o de amanhã. Na verdade, todos os “amanhãs” são belos. Pelo fato de ainda não existirem. Pois vá, e diga ao amor que não guardo rancor, ou você nem teria falado comigo, apenas buscaria a sobra de um rosto bonito. – Ele ergueu os olhos.
– Não dê adeus. Sabe que essas partidas são temporárias, e posso voltar a qualquer hora.
– E que te fechem as portas!
– O quê?
– Nada. Volte logo! – Sorriu



 por Adriano .C

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