21 de nov. de 2010

bares da vida

Depois de percorrer por tantos "bares da vida" e ter visto e ouvido tantas histórias....copio aqui alguns trechos do texto de Fabrício Carpinejar:
 AMOR É COISA DE BOTECO.

Uma hilária analogia para o amor curtido em botequim!



O amor encontra sua dignidade na vergonha. Envergonhar-se de um amor é ter orgulho dele. 

Choro por um amor. Despedaço-me por um amor. Fragmento-me por um amor. Faço chantagem por um amor. Digo o que não devo por amor. Estrago uma festa por amor. 





Amor desesperado é ainda o jeito mais tranqüilo de amar. Não conheço outra paz senão a de guerrear no fundo de um copo. 

Não sou homem de tranqüilizantes, de remédios na cômoda, de sono induzido. Meu quarto é o bar, público e derradeiro. Meu travesseiro é uma toalha de mesa plastificada. Amor só sabe gemer falando alto. 

O amor é aguardar uma resposta. A fossa é o período de uma resposta a outra. Não há como amar sem prejuízo. Sem acreditar que não deu certo. É inacreditável como apaixonados contam as mais absurdas confidências a estranhos e escondem os detalhes dos mais próximos. Todo garçom já foi nosso padre um dia. Nosso confessor. A gravata-borboleta é nossa batina. 

Amor é esse estágio necessário de loucura para suportar a normalidade. Quando amo, não preciso de psiquiatra, preciso de um táxi para voltar. 

Amor mesmo é coisa de boteco, com potes de ovinhos de codorna e cachaça nas prateleiras. Amor não tem nojo, repulsa, pudor de sofrer. Sofremos de amor para abrir espaço por dentro e desalojar antigos moradores. 








Amor não é próprio de restaurante ou de guardanapo nos joelhos. Não haverá um porteiro saudando com "boa-noite", não haverá recepção ou um senhor para abrir a porta. Aliás, não terá porta, é uma garagem para o corpo balançar à vontade e não quebrar nada. 

Não espere cardápio no amor, espere cartazes nas paredes. As lâmpadas estarão com as braguilhas abertas no teto. 

Amor mesmo é devasso, cafona, cadeira de metal amarela, dobrável e enferrujada. Deve-se tomar cuidado para não sentar na ponta. 

O amor não vem da elegância de um lugar, vem da nobreza da dor. 









O amor é o solitário do balcão, a retirar vagaroso o rótulo úmido da garrafa porque não pode despir sua mulher. Fica delirando em braile. Aprende inglês com as moscas. Joga dama com os cascos. Reza dez ave-marias para cada pai-nosso. Descobre que o terço é feminista. A cada vez que pensa em si, pensa dez vezes no corpo dela. 

Não se limpa um amor no banheiro. Limpa-se com as mangas da camisa na frente de todos. O amor é a boca assoando. 

O amor não pede a conta na mesa, é a conta. Não há amor se você não for o último cliente. O último a sair é que está realmente amando. 

Quem ama não guarda o dinheiro na carteira, deixa avulso e amassado no bolso. É sintomático. Estará cantando Amado Batista sem querer. E se espantará que conhece a letra, egressa de alguma estação da infância. 

Só pode ser do radinho materno, ao lado do fogão. Sua mãe colocou aquelas canções em sua comida.










...um amigo comentando dia desses: "Lembra quando passávamos por vários botecos até chegar naquele que o cara  já estava com o esguicho na mão, pra abrir o bar??"


Velhos tempos...belos dias!!







16 de nov. de 2010

(e) feito sol



Foram-se os amores que tive
ou me tiveram. 
Partiram
num cortejo silencioso e iluminado.
A solidão me ensina
a não acreditar na morte
nem demais na vida: cultivo
segredos num jardim
onde estamos eu, os sonhos idos,
os velhos amores e os seus recados,
e os olhos dele que ainda brilham
como pedra de cor entre as raízes.

Lya Luft




"...nada mais vai me ferir,  é que já me acostumei com a estrada errada que eu segui com a minha própria lei...Tenho o que ficou e tenho sorte até demais...como sei que tens também."

Andrea Doria  - Legião Urbana







12 de nov. de 2010

cinema mudo


"O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias"
Cecilia Meireles
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4 de nov. de 2010

um certo alguém


Sonhei que encontrei um alguém
Que foi o sonho em tantos sonhos que tive
Em sono e em devaneios
De olhos fechados e de olhar perdido
A fala macia me contava suas histórias
Sonhei que me perdi em seus gestos
E fui além da forma física e do intelecto
Buscando ver além do olhar o coração e a alma
Na sintonia que me intercepta e me tira a calma
Além do que conheço de mim
Sonhei que era o fim de um começo
E o começo de um fim
Por linhas tão definidas, pereço
Antes pudesse deixar no ar
O sonho de continuar a sonhar
Impotente me encontro, pois não soube esperar
E mais uma vez teria eu de aprender a esperar?
Até quando?
Vivo em ti um pouco de mim
Que só assim eu conheço
No encontro por tanto tempo guardado de nós
Invisíveis, nos cruzamos
E hoje o sonho me faz pensar
Em tudo o que Somos

pro que der e vier




Se você vier

Pro que der e vier comigo
Eu Te prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair

Se você vier

Até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto esse canto de amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo

Se você vier

Pro que der e vier comigo
Te prometo o sol
Se hoje o sol sair
Ou a chuva
Se a chuva cair

Se você vier

Até onde a gente chegar
Numa praça na beira do mar
Num pedaço de qualquer lugar
Nesse dia branco
Se branco ele for
Esse tanto esse canto de amor
Se você quiser e vier
Pro que der e vier comigo
Comigo
Comigo




2 de nov. de 2010

jangada





Vamos construindo estradas
Vencendo chuvas
Vamos retirando as pedras, encurtando as curvas
Mesmo que a vontade é grande de parar,descansar
Ver o que já foi construído não nos deixa parar

Quando eu vejo o medo na estrada
Não consigo ir
Mas se o venço dentro de mim, eu vou prosseguir
Pode a ponte deste caminho a enchente levar
Se usamos suas madeiras, fazemos jangadas

Para chegar do outro lado do rio e ver
Que vencer as fortes correntes nos fizeram crescer
Para chegar do outro lado do rio e ver
Que o sol que faz a justiça vem nos aquecer

corre a chuva
molha a estrada
levam as pontes
Mas fazemos jangada



cores e flores


cores
flores
sorrisos
amores
O que é a vida
senão essa mistura
onde entram também
as dores
e os "pavores"?
O que vale é brincar,
caminhar,
aprender e não desistir
Porque maior que as dores,
são os sonhos e suas cores
onde em algum lugar
se jogue semente
pra semear somente
flores !