25 de nov. de 2014

dessentir

há um estranhamento
um certo estranheirismo
um estranho....

um  deixar de sentir
seria um des sentimento?

estranho sentido
fazer sentido
esse dessentir

vou deixando
já deixei
já tomei de volta
o que um dia eu te dei.



13 de nov. de 2014

ahhh,...meu poeta....



Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico oumesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”.
E o monge se calou descabelado.

Manoel de Barros; Poesia Completa