27 de nov. de 2011

na memória


Olhando meus escritos , quantas coisas passaram que eu escrevi e não publiquei. Quantas fotografias e histórias guardadas aqui.

Aos poucos vou relendo e trazendo a lembrança momentos e situações, pessoas que passaram por mim, que dividiram por  algum tempo suas vidas.  Sou afortunada, pois a maioria ainda continua de alguma forma presente na minha vida. e isso é bom e bonito, porque é ai que descobrimos que houve reciprocidade, lealdade, amor e amizade , sentimentos esses,  que  se perpetuam.

Hoje vi antigas fotografias. Lembrei de uma pessoa que conheci que havia perdido sua memória.  E quando nos conhecemos ele me falou que não tinha memória...eu gritei: - Uauuuuuuu........que tesão!!  Vibrei com a possibilidade de alguém não se lembrar  de alguns  fatos e pessoas. Não que eu precisaaaaasse...., mas convenhamos tem horas e coisas que seriam tão bom se apagássemos da nossa memória.

E esse homem foi entrando na minha vida com sua curta memória, trocamos experiências.,ele me falava que queria conhecer o mar novamente, reconhecer as músicas ,  seus olhos brilhavam como de uma criança descobrindo o mundo.... mas  ele tinha algo, algo que nasceu com ele independente da memória : o dom da fotografia., o olhar de poesia. Ele me mostrava  como via o mundo através das lentes de sua Leica e eu lhe mostrava como a música  se encaixava e contava-lhe quem eram os grandes poetas...e trazíamos vida e alegria, um  ao outro, no nosso pouco tempo juntos.

Só que um dia ele  partiu, vitima de uma doença degenerativa e sem cura, ele foi em busca de suas origens e assim se perder no mundo até o dia de chegar sua hora. Um homem lindo, forte, inteligente. Um ariano guerreiro...e solitário.

Nos falávamos sempre nos nossos aniversários, me mandava suas fotos por email e dizia onde estava, ás vezes  me ligava de algum lugar da América latina, só pra dizer que estava bem...nesse último ele não apareceu., não ligou.

Deixou algumas fotos pra mim  e uma lição: Que bom que temos memória.



a memória 

Era no tempo em que só havia ar e pássaros. Os pássaros voavam e como não existia mais nada, coisa nenhuma, nem árvores nem pedras, os pássaros não podiam pousar. Voavam sempre. Um dia o pai de uma cotovia morreu e os pássaros não sabiam o que fazer com o corpo. Então a cotovia resolveu enterrar o corpo morto do pai na sua nuca. E foi assim que surgiu a memória.
Laurie Anderson 


maio 2005, (dias felizes).



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