19 de out. de 2010

embriague-se




Embriague-se

É preciso estar sempre embriagado. 

Isso é tudo: é a única questão.
 Para não sentir o horrível fardo do tempo que quebra seus ombros 
e o curva para o chão,
 é preciso embriagar-se sem perdão. 

Mas de quê? 
De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. 
Mas embriague-se. 

E se, às vezes, nos degraus de um palácio, 
na grama verde de um fosso,
na solidão triste do seu quarto,
você acorda,
 a embriaguez já diminuída 
ou desaparecida, 
pergunte ao vento,
à onda, 
à estrela, 
ao pássaro, 
ao relógio,
a tudo o que foge,
a tudo o que geme,
a tudo o que rola, 
a tudo o que canta,
 a tudo o que fala,
 pergunte que horas são
e o vento, 
a onda, 
a estrela, 
o pássaro, 
 e o relógio lhe responderão: 
“é hora de embriagar-se! para não ser o escravo do mártir do tempo, embriague-se; 
embriague-se sem parar! 
de vinho, de poesia ou de virtude, como quiser”.

Baudelaire


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